Justificação
Justiça de Deus, Salvação do Homem
Por Marcio S. da Rocha.
Já vimos que, aos olhos de Deus, o ser humano é culpado, tanto por ter herdado o pecado de Adão (e Eva), quanto pelas suas próprias atitudes e ações (ver artigo “Pecaminosidade Humana”). Sabemos que Deus é santo e justo, e que o preço a pagar pelo pecado é a morte (física e espiritual). Deus determinou esta pena (Gên. 2.17). Porém, também sabemos que Ele ama imensamente o ser humano. Aí surge um conflito. Por ser justo, Deus deve aplicar a condenação merecida ao homem. Se ele não a aplicasse, seria injusto, pois estaria transgredindo sua própria lei. Por outro lado, por ser imensamente amoroso, ele quer salvar da morte e destruição eterna o ser humano, criado à sua imagem e semelhança. Se Deus não providenciasse um meio de salvação para a humanidade, ele não seria amoroso. Como Deus resolveu este conflito? O que a Bíblia diz?
O conflito justiça x amor
Deus, em sua soberania, poderia simplesmente perdoar os pecados de toda a humanidade e estaria resolvida a questão. Mas, isto não seria justo, pois ele mesmo havia determinado que a penalidade pelo pecado é a morte. Ele não podia transgredir o que ele próprio determinou. Se o fizesse, ele também seria transgressor (pecador). Todos nós merecíamos ser condenados a estar perpetuamente afastados da gloriosa presença de Deus (Rom. 3.23). A pena precisava ser paga. Merecemos a morte eterna porque somos pecadores.
A única solução para que Deus resolvesse o conflito justiça x amor, seria uma expiação. Se um de nós, que não fosse pecador, morresse por todos, representando a todos, levaria a culpa de todos sobre si. Se houvesse alguém que pudesse representar a raça humana diante de Deus, alguma pessoa que fosse justa, santa e perfeita, e se esta se entregasse voluntariamente para morrer por todos, a penalidade seria paga e Deus poderia estender o seu perdão à humanidade. A isto se chama expiação. Um inocente paga pelos crimes de outros que são culpados. Se um inocente voluntariamente paga a pena de um culpado, o juiz declara o culpado justificado (livre da pena). Porém, não havia ninguém na terra capaz de atender a esses requisitos. Não havia ninguém inocente – sem pecado (Rom. 3.23). Vimos que todos os homens estão corrompidos desde a sua concepção – já nascemos corrompidos, pecadores. O que Deus fez então?
A solução de Deus: o Sacrifício Expiatório de Cristo
Em seu imenso amor, Deus fez o inimaginável aos olhos humanos. Fez com que seu próprio filho, Deus infinito e santo como ele, se reduzisse à condição inferior de homem finito, e, mesmo inocente, morresse pelos pecados dos culpados. Para tanto, seu nascimento precisou ser diferente. Jesus não podia nascer pelos meios naturais, senão estaria também corrompido. Então, Deus fez Jesus nascer de modo sobrenatural. Jesus foi materializado no ventre de Maria pelo Espírito Santo de Deus, sem herdar o pecado original, contudo, sendo um descendente de Davi, para que se cumprissem as profecias de que o Messias seria “filho de Davi”. Maria, sua mãe humana, não teve relações sexuais com ninguém, antes de Jesus nascer. Assim, Jesus foi o único homem nascido depois de Adão que não trouxe herança do pecado original. Por isso, Paulo diz que Jesus foi “o último Adão” (1 Cor. 15.45). O que isto significa? Adão, o primeiro homem, foi criado diretamente por Deus, à sua imagem e semelhança. Jesus também foi concebido diretamente pelo poder do Espírito Santo, sem que houvesse a fecundação natural de um óvulo por um espermatozóide. Jesus foi o segundo (e último) homem criado diretamente por Deus. Ele é a própria imagem do Deus invisível; portanto, ele é o último Adão. Adão foi criado sem pecado; Jesus também. Jesus é o último Adão. A diferença entre os dois é que Adão pecou e Jesus foi tentado em tudo, mas não pecou (Heb. 4.15 e 9.28).
Por isso, Jesus (e somente ele) estava apto a pagar a penalidade determinada por Deus pelos pecados da humanidade. Ele foi o único humano inocente, sem pecado algum. Por um amor incompreensível a nós homens, Deus providenciou a morte de seu próprio filho e determinou que todo aquele que nele crer e o receber como Salvador e Senhor será justificado, livre da condenação da morte eterna. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho único para que todo aquele que nele crê, não morra, mas tenha vida eterna” (João 3.16). Cristo pagou a nossa condenação, quando morreu na cruz, no monte chamado Calvário. “Cristo morreu pelos nossos pecados” (1 Cor. 15.3; 1 João 2.2). Paulo chama isto de justificação. Deus declara justo todo aquele que crê no seu filho. Quem, porém, não crer, continua condenado e, sem dúvida, será penalizado com a morte eterna (João 3.18). Quem despreza o sacrifício expiatório de Cristo e não o aceita, rejeita a única forma de ser justificado.
Deus Declara Justos à Vista Dele os que Crêem no seu Filho
Na sua declaração legal de justificação, Deus declara especificamente que nós, os que cremos, somos agora justos aos seus olhos. Isto significa duas coisas. Primeiro, significa que ele declara que nós não temos mais penalidade a pagar pelos nossos pecados, incluindo os pecados do presente, do passado e do futuro. Paulo fala no livro de Romanos acerca dos que foram justificados pela fé: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rom. 8.1). Observe que isto não significa que depois de justificados não somos mais pecadores aos olhos de Deus. Significa que, ao crermos, não seremos mais condenados, mesmo ainda sendo pecadores. Quando cremos e fomos salvos, Deus eliminou de nós a culpa e a condenação resultante do pecado, mas não o pecado em si, que continua habitando em nossos corpos. Por isso, Paulo dizia ao mesmo tempo “temos paz com Deus” (Rom. 5.1) e “miserável homem que sou… quem me livrará desse corpo mortal?” (Rom. 7.24).
No entanto, vale ressaltar que crer em Cristo não é simplesmente saber que Cristo morreu por nós. Os demônios também sabem disso. Conhecimento não é o mesmo que fé salvífica. Crer também não é simplesmente acreditar em Jesus. Os demônios também acreditam que Cristo é o Filho de Deus! (Tg. 2.19). Crer é confiar completamente, sem reservas. Eu posso saber e acreditar que um avião é capaz de voar, mas não confiar (não crer) e nunca entrar num avião. Crer em Jesus para salvação é confiar em Cristo a ponto de entregar sua própria alma a ele, para que ele a salve e dirija. Quem se entrega a Cristo passa a lhe pertencer; submete-se a Ele; morre para o mundo; vive para Cristo. E o Senhor afirmou sobre suas ovelhas, que ninguém as arrebataria de sua mão! (João 10.28). Cristo Justifica os que estão nele. Cristo salva completamente os que se entregam a ele!
Quem Recebe o Filho, Recebe, por Imputação, a Sua Justiça
Segundo, quando dizemos que Deus nos justifica por causa de Cristo, dizemos que ele imputa a justiça de Cristo a nós. Deus considera a justiça de Cristo como pertencente a nós. Ele a “credita” em nossa conta. Lemos: “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça” (Rm 4.3, citando Gn 15.6 nvi). Quem trabalha recebe o seu salário como merecimento. Paulo continua e explica: “Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. E é assim que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras” (Rm 4.5-6). Desse modo, quando cremos, a justiça de Cristo torna-se nossa. Paulo diz que nós recebemos “o dom da justiça” (Rm 5.17).
Deus nos Justifica Sem Merecermos, Inteiramente Pela Sua Graça
Paulo declara em Romanos 1.18-3.20 que ninguém será capaz de tornar-se justo diante de Deus, “visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei” (Rom. 3.20), e que “Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus (Rom. 3.23-24). A palavra “graça”, para quem a recebe, significa “favor não merecido”. Para quem a dá, graça significa “doação, na qual o doador não espera nada em troca”. Mesmo se tivéssemos algo a oferecer a Deus (o que efetivamente não temos, pois tudo é dele), Ele nos justificou por amor e não para trocar a salvação por algo que pudéssemos lhe dar. Porém a verdade é que nós não temos nada em nós mesmos que nos faça merecer o favor de Deus. Assim, a única maneira pela qual poderíamos ser declarados justos é se Deus, gratuitamente, nos proporcionasse a salvação, totalmente à parte de nossas obras. Paulo diz ainda, “Temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado” (Gl. 2.16). Diz também que Cristo é “propiciação, mediante a fé” e que Deus “é o justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.25, 26). E foi isso que ele fez. Justificou-nos sem nenhum mérito de nossa parte. Muitas pessoas não aceitam isso, porque está além da compreensão humana, e dizem, “assim é bom demais, é muito fácil!” Na verdade é bom demais mesmo! Fomos justificados gratuitamente! Assim é a “incrível” bondade e justiça de Deus! Que foi fácil, isto não foi. Cristo se humilhou muito ao, momentaneamente, se reduzir à forma humana, e morreu uma morte terrível por mim e por você. Deus fez a parte dele para que pudéssemos ser justificados e salvos.
Jesus disse ao morrer, “Está consumado!” (João 19.30). O que podia ser feito, Ele já fez! A nossa parte é apenas crer e receber o seu Filho, pela fé. Eu já fiz isto. E você? Vai dizer, “não aceito ser salvo assim. Eu mesmo vou fazer por merecer”, ou vai humildemente dizer, “Senhor, eu entendi que nada que eu venha a fazer vai me levar a merecer a salvação. Sou pecador e sei que o teu filho Jesus morreu em meu lugar. Eu aceito o sacrifício dele e o recebo como meu Senhor! De agora em diante sou teu. Guia-me para que eu não peque mais e viva uma vida que te agrade. Amém.” Espero que esta última seja a sua oração.
“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus” (Rm 5.1).
Questões para reflexão e aprofundamento
- Por que Deus não podia simplesmente perdoar a todos e salvar toda a humanidade, sem que Cristo tivesse morrido?
- Por que somente Cristo podia morrer no lugar dos pecadores?
- Qual a diferença entre crer e acreditar?
- As “boas obras” podem salvar alguém? Qual o papel das boas obras na vida do cristão? (veja Efésios 2.10)
- Uma vez que a pessoa crê, alguém ou algo pode vir a lhe tirar a salvação?
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