O Cânon Bíblico

ago 28, 2010 by

O Cânon Bíblico

Por Marcio S. da Rocha.

Neste artigo abordamos sinteticamente como aconteceu o processo de transmissão e registro escrito das verdades de Deus, bem como quais são os livros que compõem as Escrituras Sagradas.

O Canon das Escrituras é o conjunto dos livros inspirados por Deus, portanto, livros sagrados; ensinos que foram transmitidos pelo próprio Deus (por meio de inspiração, visão ou manifestação verbal audível) a homens que os registraram por escrito, para que fossem preservados e repassados com fidelidade à humanidade, afim de, por meio deles, as pessoas pudessem saber corretamente sobre Deus, crer e se relacionar pessoalmente com Ele para a salvação.

A palavra Cânon tem sua origem na palavra Grega kanwn (kanon), que significava originalmente “cana de medir”. Era um padrão, uma unidade de medida. Assim, “Cânon”, aplicado às Escrituras, significa o “padrão” ou o “critério” para que alguém possa julgar se um ensino é de Deus ou não. Os livros canônicos, por terem sido transmitidos pelo próprio Deus, são a autoridade máxima e o padrão, em termos de fé e prática, para os cristãos. Em termos práticos, as Escrituras Sagradas servem como uma norma referencial para julgarmos se um ensinamento ou conhecimento espiritual é de Deus ou não. Se um ensinamento sobre a pessoa de Deus ou sobre o relacionamento entre Deus e os homens está de acordo com o que está escrito nos livros canônicos, é correto e proveniente de Deus. Senão, é proveniente da especulação do próprio homem ou até do maligno, sendo, portanto, errôneo e desprezível.

Somente por meio dos livros inspirados podemos aprender corretamente sobre Deus e chegar a crer em Cristo, para a salvação. Somente os livros inspirados compõem a Revelação de Deus. Outros escritos, sem inspiração divina, não passam de pensamentos humanos sobre Deus.

Qual a importância de sabermos com certeza quais são os livros inspirados por Deus?

É muito importante sabermos com clareza quais são os livros inspirados porque somente por meio dos livros inspirados podemos aprender corretamente sobre Deus e chegar a crer em Cristo para a salvação e santificação. Somente os livros inspirados compõem a Revelação de Deus. Outros escritos, sem inspiração divina, não passam de pensamentos humanos sobre Deus ou sobre o próprio ser humano. Como o homem, depois do pecado de Adão e Eva, se encontra num estado corrompido, suas idéias próprias sobre Deus e sobre si mesmo são geralmente errôneas.

As palavras e o texto das Escrituras são hoje o meio pelo qual Deus se revela a nós, de forma mais clara.  Aquele que lê as Escrituras buscando sinceramente ao Senhor recebe iluminação do Espírito Santo para entender, aceitar e crer na mensagem de Deus, além de adquirir conhecimento suficiente para saber como viver de modo que agrada a Ele.

Moisés já dizia ao povo de Israel:

“Porque esta palavra não é para vos outros coisa vã; antes, é a vossa vida, e por esta mesma palavra prolongareis os dias na terra à qual, passando o Jordão, ides para possuir” (Dt. 32.47)

“Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor, vosso Deus, que vos mando.” (Dt. 4.2)

A delimitação precisa do cânon das Escrituras é, portanto, de extrema importância para quem quer conhecer a Deus e viver de modo que lhe agrade.

O DESENVOLVIMENTO DO CÂNON

O Cânon do Antigo Testamento

A coleção mais antiga das palavras de Deus eram os Dez Mandamentos, escritos em tábuas de pedra, pelo próprio “dedo de Deus”. Depois, o próprio Moisés acrescentou palavras para que fossem depositadas ao lado da Arca Da Aliança (Dt. 21.24-26). Depois da morte de Moisés, Josué também recebeu revelações de Deus e as registrou, ampliando os escritos sagrados (ver Josué 24.26).

Mais tarde, os profetas israelenses também receberam mensagens de Deus e as transmitiram ao seu povo. Tais mensagens foram registradas por eles mesmos ou por seus assessores, ou por copistas (escribas), como palavras sagradas, vindas do próprio Deus. Um exemplo são as palavras de Jeremias: “Assim diz o Senhor, Deus de Israel: escreve num livro todas as palavras que eu disse” (Jr. 30.2). O último profeta do Antigo Testamento foi Malaquias (que viveu e escreveu por volta de 435 a.C.).

Durante esse período entre Moisés e o último profeta (Malaquias), alguns escritos de caráter mais histórico (de Reis a Ester) e outros cujo tema principal é a sabedoria (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares) também foram reconhecidos pelos judeus como Escrituras Sagradas.

Digno de nota é que todas as Escrituras do Velho Testamento foram escritas em Hebraico, com exceção de alguns trechos dos livros de Esdras e de Daniel, escritos em Aramaico[1] por Esdras, durante o Exílio Babilônico. Este, inclusive, é um dos principais critérios utilizados para saber quais são os livros do Velho Testamento inspirados por Deus. O fato é que Deus transmitiu e ordenou apenas aos judeus (no período profético do Antigo Testamento) que suas palavras sagradas fossem registradas. Esses registros foram feitos na língua falada por eles – o Hebraico, e no período do exílio – o Aramaico.

O conjunto das Escrituras do Antigo Testamento estava, então, completamente formado quando o livro de Malaquias foi concluído. Era reconhecido pelos judeus como Escritura. Esses livros são os 39 que integram a Bíblia judaica[2] e que coincidem com o Velho Testamento protestante, escritos ao longo de aproximadamente 1.600 anos. Esse conjunto ficou conhecido como A Lei, os profetas e os escritos. Depois, os judeus passaram a se referir a este conjunto como A Lei e os profetas. Jesus Cristo muitas vezes se referiu às Escrituras com esta expressão (Mt. 7.12; 22.40; Lucas 16.16).

O Cânon Hebraico

A mais antiga referência ao cânon judaico está no livro Contra Apião (1.8), do historiador Josefo (nascido em 37/38 d.C.), onde ele afirma que os Judeus só possuem 22 livros divinos. Ele explica que “Desses, cinco pertencem a Moisés” e, para delimitar o período entre Moisés e Artaxerxes, diz “Os profetas depois de Moisés escreveram o que aconteceu em suas épocas em treze livros” e “Os quatro livros restantes contêm hinos a Deus”.

Cânon Hebraico

A Lei ou Pentateuco (Torá): Gênesis (No princípio); Êxodo (Estes são os nomes); Levítico (E chamou); Números (No deserto); Deuteronômio (Estas são as palavras).

Os Profetas (Neviim)

Anteriores: Josué; Juízes; Samuel; Reis (no Cânon Hebraico, 1º Reis  e 2º Reis estão reunidos num só livro).

Posteriores: Isaías; Jeremias; Ezequiel; os doze profetas: Oséias; Joel; Amós; Obadias; Jonas; Miquéias; Naum; Habacuque; Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias.

Os Escritos (Kêtuvim): Salmos; Jó; Provérbios; Rute; Cantares; Eclesiastes (Coélet); Lamentações; Ester; Daniel; Edras-Neemias; Crônicas (estes cinco últimos são conhecidos como cinco rolos ou Megillath).

Concomitantemente com os livros inspirados, existiam outros livros que circulavam entre os judeus, além dos canônicos, alguns escritos no período entre Moisés e Malaquias, mas que não entraram no Cânon. Alguns deles eram respeitados, apesar de que não passaram no “teste” de canonicidade. Outros eram pseudepígrafos (cuja autoria foi atribuída falsamente a homens de Deus). Alguns exemplos são: O Livro de Adão, O Livro de Enoque, A Ascensão de Moisés, O Apocalipse de Elias etc.

Critérios de canonicidade dos livros do Antigo Testamento

Como os judeus decidiram quais são os livros sagrados? Os critérios foram os seguintes:

  • A língua original (Hebraico, e, no tempo do exílio, Aramaico);
  • O livro não podia conter qualquer incoerência com os escritos de Moisés;
  • O período (época) em que foram escritos – os livros tinham que ter sido escritos entre Moisés e Esdras.
  • A autoridade – o escritor não podia expressar dúvida de que seus escritos eram inspirados por Deus;
  • Ausência de erros nas narrativas históricas;
  • A autoria direta ou indireta de homens de Deus – pessoas que tiveram contato direto com Deus, cuja história comprova isto;

O Silêncio Profético

Quanto à importância do período em que os livros foram escritos, há evidências históricas de que os judeus consideravam que depois de Malaquias houve um “silêncio profético”, ou seja, não apareceu mais quem falasse em nome do Senhor. No próprio livro (apócrifo) de 1 Macabeus, isso está claramente evidenciado. O autor, escrevendo sobre o altar do templo profanado, diz: “Demoliram-no, pois, e depuseram as pedras sobre o Monte da Morada, em lugar conveniente, à espera de que viesse algum profeta e se pronunciasse a esse respeito” (1 Macb. 5.45-46, grifo nosso). O mesmo autor, falando de um grande sofrimento, também disse: “O qual não tinha havido desde o dia em que não mais aparecera um profeta no meio deles” (1 Macb. 9.27 e 14.41, grifo nosso).

Josefo, no já citado livro intitulado Contra Apião, escreveu:

“Desde Artaxerxes[3], até os nossos dias foi escrita uma história completa, mas não julgada digna de crédito igual ao dos registros mais antigos, devido à falta de sucessão exata dos profetas” (Contra Apião 1.41).

A literatura rabínica reflete a mesma convicção:

“Após a morte dos últimos profetas, Ageu, Zacarias e Malaquias[4], o Espírito Santo afastou-se de Israel, mas eles ainda se beneficiavam do bath qôl” (Talmude Babilônico, Yomah, 9b, repetido em Sota 48b, Sanhedrin 11a, e Midrash Rabah sobre o Cântico dos Cânticos, 8.9.3. conforme GRUDEM[5], p. 30).

A definição final do Cânon Hebraico – O Concílio Judaico de Jamnia e os Massoretas

Depois da destruição de Jerusalém e do Templo, em 70 d.C., uma colônia judaica de eruditos, sob a liderança de Johanan Ben Zakkai, se estabeleceu em Jâmnia (ou Jabnes), uma cidade próxima a Jerusalém, cerca de 45 km, e lá formaram uma escola para o estudo e o ensino das Escrituras. Em 90 d.C., um concílio de líderes judeus, conhecido como Concílio de Jamnia, discutiu quais os livros que deveriam ser reconhecidos como Cânon Hebraico. Em grande parte, este concílio foi realizado por causa da “seita dos cristãos”, que, segundo eles, adotava as Escrituras juntamente com outros livros que eles consideravam como sendo sem inspiração divina (referindo-se aos escritos dos apóstolos). O Concílio de Jâmnia decidiu oficialmente pelos 22 livros já descritos (39 livros do Velho Testamento das Bíblias evangélicas).

Alguns estudiosos não aceitam a decisão deste concílio como final porque, segundo eles, o Concílio de Jamnia não representava oficialmente o Judaísmo do primeiro século. Entretanto, este argumento não prospera, pois este cânon definido em Jamnia constitui a Bíblia Hebraica e persiste até hoje, indiscutivelmente, como o Cânon oficial judaico.

Os teólogos e clérigos católicos rejeitam o Cânon Hebraico, argumentando que Jamnia foi um concílio judeu e não da igreja. Muitos teólogos católicos alimentam um forte sentimento anti-judaico (acesse, por exemplo, o website católico http://www.veritatis.com.br/article/3965) e acusam os judeus reunidos em Jamnia de criarem critérios que excluiriam do Cânon os livros escritos originalmente em Grego (tanto os livros do Novo Testamento, quanto os apócrifos do Velho Testamento da polêmica Versão Septuaginta).

Sem dúvida, os rabinos judeus estavam preocupados em preservar as Escrituras Vetero-Testamentárias contra uma possível mixagem com os livros dos apóstolos de Jesus Cristo. Porém, estes argumentos não podem ser aceitos pelos cristãos, primordialmente porque sabe-se que o povo de Deus no Antigo Testamento era o povo Judeu. Não podemos esquecer que Deus prometeu a Abraão “Em ti serão abençoados todos os povos da terra” (Gen. 12.3) e que Cristo disse “A salvação vem dos judeus” (João 4.22). Paulo também afirma que “Aos judeus foram confiadas as palavras de Deus” (Rom. 3.1).

Deus inspirou judeus e confiou a eles a preservação dos livros sagrados, na época do Velho Testamento. Os judeus em Jamnia estavam corretos ao delimitar as Escrituras Hebraicas, confirmando apenas os livros escritos em Hebraico, com exceção das pequenas partes de Daniel, escritas em Aramaico.

A Contribuição dos Massoretas

O trabalho do Concílio de Jamnia foi confirmado e completado na Idade Média pelo trabalho dos Massoretas (590 a 950 d.C.). Esses eram rabinos que se esmeravam na confecção de um texto sagrado Hebraico que tivesse sinais vocálicos que não existiam até então nas Escrituras, por isso esses sinais ficaram conhecidos como sinais massoréticos. Os Massoretas trouxeram o texto do Velho Testamento para o Hebraico moderno. Produziram um texto hebraico do Velho Testamento na forma final, a que nós temos hoje. O cânon dos Massoretas é o mesmo cânon reconhecido pelo Concílio de Jamnia. O cânon judaico hoje é o mesmo reconhecido e afirmado no Concílio de Jamnia, que por sua vez, é o mesmo cânon que se formou entre os tempos de Moisés e Esdras – O Cânon Sagrado do Antigo Testamento.

E os livros apócrifos do Velho Testamento que integram o Cânon Católico-Romano?

Alguns escritos históricos registraram a história dos judeus depois de Esdras, tais como os livros dos Macabeus. Esses livros, bem como trechos adicionais dos livros de Ester e Daniel, embora respeitados pelos judeus como literatura judaica, e alguns — como Macabeus I e II — como livros históricos, não foram reconhecidos por eles como Escritura. Tais livros não passam nos testes de canonicidade do Velho Testamento (principalmente porque quase todos foram escritos originalmente em Grego[6]). A Igreja Católico-Romana, entretanto, os reconheceu como canônicos em alguns dos seus concílios locais (Roma, Cartago, e Hipona) ocorridos na segunda metade do século IV, passando a definir a questão em 1546, no Concílio Geral Católico-Romano de Trento, ocorrido logo depois da Reforma Protestante.

São eles:

Judite; Tobias; acréscimos a Ester; Sabedoria; Eclesiástico; Baruc; acréscimos a Daniel e Macabeus I e II.

O Concílio de Trento os reconheceu como canônicos e pôs fim à dúvida quanto à sua canonicidade para os católicos romanos. Eles não os consideram apócrifos, mas os classificam como deuterocanônicos, palavra que significa “acrescentados mais tarde ao cânon”. A idéia defendida pela Igreja Católica Romana é que tais livros foram inspirados por Deus depois do fim do período profético, mesmo tendo sido escritos por homens que não eram profetas, no período em que não havia mais profetas em Israel (silêncio profético). Por isto os chamam de “acrescentados ao Canon”.

É interessante notar que a canonicidade desses livros apócrifos (ou deuterocanônicos) do Velho Testamento sequer foi discutida no referido concílio judaico de Jamnia no ano 90 d.C. Parece que os judeus do primeiro século não viam qualquer razão para considerarem os livros hoje incluídos no cânon católico-romano como candidatos a canônicos. Os livros cuja canonicidade foi discutida neste concílio judaico foram apenas Ester, Cantares e Eclesiastes, os quais foram reconhecidos como canônicos naquele concílio em Jamnia.

A polêmica em torno dos livros não canônicos do Antigo Testamento foi gerada porque supõe-se que eles estavam presentes na versão das Escrituras Hebraicas em Grego, conhecida como Septuaginta (Versão dos Setenta, ou LXX). Essa versão ficou assim conhecida porque uma lenda diz que setenta e dois rabinos (sendo seis de cada uma das doze tribos de Israel) trabalharam numa tradução das Escrituras Hebraicas para o Grego, e teriam-na completado em setenta e dois dias. Diz esta tradição que a LXX foi encomendada por Ptolomeu II (287 a.C. – 247 a.C.), rei do Egito, para integrar a então recém inaugurada Biblioteca de Alexandria. Esses dados constam na Carta de Aristéias a Filócrates, mencionada por Eusébio, um documento hoje claramente reconhecido como falso pelos eruditos, tanto católicos quanto evangélicos[7].

Alguns teólogos sustentam que a Septuaginta era bastante popular no primeiro século, época em que a língua grega era a “língua internacional” e que os judeus quase não falavam mais o Hebraico. Segundo essa corrente teológica, provavelmente a Septuaginta era o texto mais usado pelos judeus na Palestina, na época de Jesus. Essa corrente defende sua tese com base, principalmente, no fato de que as citações de versos do Velho Testamento que aparecem nos manuscritos do Novo Testamento, principalmente nas Cartas Paulinas, coincidem literalmente com as leituras encontradas nos manuscritos gregos do Velho Testamento. É Notável que a citação de Isaías 7.14, “Eis que a virgem conceberá”, em Mateus 1.23, é a mesma do texto Grego. O texto Hebraico (Massorético) de Isaías traz “Eis que a jovenzinha conceberá”. (A palavra Hebraica para “jovem” é almah, que quer dizer muito jovem).

Por outro lado, há outra corrente teológica (minoritária) que duvida da existência da Septuaginta como documento anterior a Cristo, uma vez que os manuscritos em Grego mais antigos de livros do Velho Testamento, encontrados pelos arqueólogos, datam somente do Século IV d.C[8]. Não há nenhuma evidência concreta (manuscrito) de que houvesse um Cânon Hebraico completo traduzido para o Grego, antes de Cristo. Essa segunda corrente, destacando-se nela Paul Kahle, admite ser possível que circulassem vários livros do Velho Testamento Judaico traduzidos para o Grego nos países de língua grega, porém, esses não foram traduzidos em uma só empreitada, como diz a lenda dos setenta e dois. Também afirmam esses eruditos que, apesar do Grego ser a língua internacional nos dias de Jesus, os judeus sempre leram as Escrituras, nas sinagogas, em Hebraico, a “língua sagrada”. Por isso essa língua nunca “morreu”, e voltou a ser falada a nível nacional, a partir de 1948, quando a ONU reconheceu o Estado de Israel.

Essa segunda corrente teológica entende que os manuscritos do Velho Testamento em Grego da Septuaginta existentes hoje foram produzidos a mando de Constantino no século IV e que os escribas que os prepararam, forjaram essa coincidência textual “ipsis literis”, para dar credibilidade a esses manuscritos. Para esses teólogos, Jesus e os apóstolos citaram verbalmente o Velho Testamento conforme o texto Hebraico, porém, com variantes, como quem as interpreta, ou parafraseia. Então, os escribas que produziram os livros do Velho Testamento em Grego para Constantino registraram neles os versos citados no Novo Testamento com as mesmas palavras, gerando artificialmente, assim, essa “coincidência” textual literal. Em suma, a tese deste segundo grupo de eruditos é que a Septuaginta foi produzida no Século IV e traz os versos do Velho Testamento citados por Jesus e os apóstolos conforme o texto do Novo Testamento, para harmonizar as duas partes da Bíblia em Grego e dar-lhe autoridade.

O fator que pesa bastante contra os apócrifos (chamados de deuterocanônicos pela Igreja Católica Romana), além de não constarem no Cânon Hebraico, é que jamais foi encontrado um códice antigo atribuído como ancestral da Septuaginta que contenha o mesmo conjunto completo dos sete livros apócrifos que estão no Velho Testamento da Bíblia Católica Romana. O códice Vaticano (cujo símbolo é “B”), considerado o principal manuscrito da Septuaginta, datado do Século IV, contém cinco dos sete deuterocanônicos, mas, não contém os dois livros de Macabeus (I e II). Este códice (Vaticano) contém o acréscimo ao livro de Daniel como um livro à parte, denominado “Bel e o Dragão”. Já o códice Sinaítico (cujo símbolo é a primeira letra do alfabeto Hebraico (álef), outro manuscrito importante atribuído à Septuaginta, também do Século IV, inclui os livros apócrifos de II Esdras, Tobias, Judite, I,  II, III e IV Macabeus, Sabedoria e Eclesiástico, além de dois apócrifos do Novo Testamento (a Epístola de Barnabé e o Pastor de Hermas). O Códice Sinaítico não contém o livro de Baruc, e contém os livros de II Esdras, e III e IV Macabeus, os quais não constam na Bíblia Católica. Assim, não há um só códice antigo que contenha o mesmo conjunto de sete livros apócrifos da Bíblia Católica. Tudo indica que esses sete livros e os outros trechos apócrifos foram cuidadosamente selecionados durante o Concílio de Trento (1545 – 1563), para serem acrescentados à Bíblia Católica.

Os citados códices não trazem nenhuma anotação ou indicação de que se constituam em coleções dos livros aceitos pelos judeus de língua grega como cânon sagrado. Além disso, a Bíblia Peshita, uma versão siríaca da Bíblia, cujos manuscritos são datados do Século II, não traz nenhum apócrifo[9].

Quanto às opiniões dos chamados pais da igreja, essas eram muito divergentes acerca do reconhecimento dos apócrifos que constavam no chamado Cânon Alexandrino (Septuaginta). Alguns como Melito, Cipriano e Rufino postulavam pelo Cânon Hebraico (com 39 livros, excluindo os deuterocanônicos). Já Ireneu e Justino defendiam o Cânon Alexandrino (com 46 livros, incluindo os deuterocanônicos). Agostinho defendia a princípio o Cânon ampliado incluindo os deuterocanônicos, mas, no fim de sua vida, mudou de idéia, rejeitando claramente os deuterocanônicos, classificando-os como espúrios. Jerônimo, a princípio, rejeitava a canonicidade dos deuterocanônicos, embora os tenha incluído em sua Vulgata a mando de Damásio, então Bispo de Roma. Em seus escritos posteriores, verifica-se que ele mudou de idéia, em favor dos deuterocanônicos; percebe-se isto em sua Carta a Rufino e noutra a Paulino, Bispo de Nola. Assim, não é possível definir a questão com base nos escritos dos pais da igreja, pois eles são divididos quanto à canonicidade dos chamados deuterocanônicos Católico-Romanos.

A maioria dos historiadores afirma que a realização do Concílio de Trento foi essencialmente motivada pelo objetivo de combater o Protestantismo. NICHOLS[10] (2004), falando sobre o Concílio de Trento, diz:

“O Concílio deu à igreja romana uma declaração completa da sua doutrina. Nada disso tinha sido feito durante a Idade Média. Dessa vez essa igreja alcançou uma expressão definitiva sobre o que ela cria e ensinava com relação às grandes verdades religiosas; isso, porém, foi preparado com um espírito de franca oposição ao Protestantismo.” (NICHOLS, 2004, p. 199)

É possível, portanto, que a edição de uma nova Bíblia, diferente da dos Protestantes, fosse um dos alvos desse concílio, o qual integrou os movimentos que caracterizaram a chamada Contra-Reforma[11].

Os teólogos reformados (ou protestantes) explicam que os apócrifos do Velho Testamento foram canonizados pela Igreja Católica Romana em 1546, com o objetivo de providenciar fundamento bíblico para doutrinas que eram ensinadas por essa igreja na Idade Média, e que estavam em clara contradição com os demais livros canônicos (principalmente a doutrina do Purgatório e a da Reza Pelos Mortos). Wycliff, Jan Hus, Lutero, Calvino e outros reformadores apontaram que essas e outras doutrinas constantes nesses livros apócrifos não tinham fundamento nos livros sagrados nem do Antigo nem do Novo Testamento.

Os judeus e os cristãos reformados (protestantes ou evangélicos) rejeitam que tais livros possam ter sido inspirados por Deus. As razões estão expostas a seguir.

Principais razões para a rejeição dos apócrifos do Velho Testamento, presentes na Bíblia Católica:

  • Nenhum deles possui manuscrito em Hebraico existente (com exceção de Eclesiástico e I Macabeus);
  • Nenhum deles jamais constou na Bíblia Hebraica;
  • Alguns desses livros ensinam doutrinas incoerentes com os escritos de Moisés e com os do Novo Testamento (Tobias 4:7-11, 9.12 ensina Justificação por obras, em contradição com Efésios 2:8-9 e outras passagens; Tobias 12:12-15 ensina Mediação dos anjos, em contradição com I Timóteo 2:5 e João 14:6; II Macabeus 12:44-45 ensina Oração pelos mortos, em contradição com Hebreus 9:27; João 3:18 e 36; Tobias 6:6-19 ensina superstição e feitiçarias; Sabedoria ensina a criação do mundo a partir de matéria preexistente (11.17), em claro contraste com Gênesis 1; Tobias e Eclesiástico ensinam que dar esmolas propicia expiação pelo pecado (3.30), anulando a suficiência da expiação do sacrifício de Cristo;
  • Alguns deles, como I Macabeus, Judite e Tobias, trazem erros históricos (cronológicos) e geográficos;
  • Todos foram escritos depois de Esdras, ou seja, numa época em que não havia profetas em Israel. Se não foram escritos por profetas, não são inspirados por Deus;
  • Esses livros não transmitem autoridade – nenhum fala “assim diz o Senhor”. Na verdade, o autor de Macabeus até pede desculpas por possíveis erros no livro (II Macabeus 15:38-39). Em nenhum livro inspirado o escritor pede desculpas por “possíveis erros”;
  • Nenhum deles foi citado por Jesus ou pelos apóstolos. Eles citaram 295 vezes o Velho Testamento, porém, nenhuma vez citaram esses livros apócrifos que estão na Bíblia Católica Romana.

Como se percebe, as evidências são muito fortes no sentido de que o Cânon do Antigo Testamento é o Cânon Hebraico, também adotado pelos evangélicos. Os ensinamentos acerca de Deus, constantes em outros livros fora dessa coleção devem ser desprezados pelos cristãos, pois conduzem ao erro.

O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO

Os livros que integram o Novo Testamento (NT) recebem hoje aceitação total, tanto por parte das igrejas evangélicas, quanto por parte das igrejas católicas (Romana e Ortodoxa). No entanto, a exemplo do que ocorreu com o Velho Testamento, o Cânon do Novo Testamento passou por um processo de formação e reconhecimento. Os livros canônicos do NT foram escritos no primeiro século, ao longo de aproximadamente 50 anos e somente no Século IV começou a haver uma unanimidade quanto à aceitação e definição das Escrituras neotestamentárias.

A igreja apostólica recebeu da igreja judaica a crença em uma regra de fé escrita. Cristo mesmo confirmou esta crença, apontando para o Antigo Testamento como a palavra de Deus escrita (João. 5.37-47; Mt. 5.17, 18; Mc. 12.36; Lc. 16.31), instruindo os seus discípulos nela (Lc. 24.45). Era natural e lógico para os cristãos que a literatura do Novo Testamento fosse acrescentada à do Antigo, ampliando deste modo o Cânon de fé. No próprio Novo Testamento se vê a intima relação entre ambos (1 Tm 5.18; 2 Pe 3.1, 2, 16).

É preciso ressaltar que a igreja não criou o Cânon; ela apenas o reconheceu. Os livros do Novo Testamento já eram lidos e muito respeitados na maioria das igrejas cristãs desde o primeiro século, tão logo eles foram escritos (com exceção de Hebreus, Tiago, II Pedro, II e III João, Judas e Apocalipse). A necessidade de definição “oficial” por parte da igreja surgiu: (1) por causa da existência de outros livros que também eram lidos e respeitados por pequena parte das comunidades cristãs e; (2) porque, a partir de meados do Século II, surgiram livros que se diziam cristãos, mas cuja doutrina era incoerente com a doutrina dos apóstolos. As autorias dos livros desse segundo grupo eram creditadas a apóstolos ou a outros homens ou mulheres que aparecem nos evangelhos canônicos para dar-lhes credibilidade, porém, sua mensagem era divergente da mensagem dos livros hoje considerados canônicos. Sabe-se hoje que esses livros são falsos (pseudepígrafos) porque os apóstolos e outras pessoas neotestamentárias já estavam mortos no segundo século. No entanto, a existência desses livros atrapalhava o progresso da fé cristã e isto precisava ser combatido. O Cânon do NT precisava então ser reconhecido e anunciado claramente pela igreja.

O desenvolvimento do cânon do Novo Testamento começa com os escritos dos apóstolos. Jesus prometeu essa capacitação aos seus discípulos em João 14.26 “Mas o Ajudador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito”. Jesus também prometeu outras revelações da verdade pelo Espírito Santo, quando disse aos seus discípulos:

“Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará.” (João 16.13-14)

Além disso, os apóstolos eram vistos pelos primeiros cristãos como equivalentes aos profetas do Antigo Testamento, capazes de falar e escrever palavras do próprio Deus. Os próprios apóstolos afirmavam isto (ver 2ª Pedro 3.2). Passagens como Atos 5.2-4 indicavam que mentir para os apóstolos era mentir para o próprio Deus. Paulo disse com bastante freqüência que parte de seus escritos eram palavras do próprio Deus (1 Cor. 2.13; 14.37; 13.3; Rom. 2.16; Gal. 1.8-9; 1 Ts. 2.13; 4.8, 15; 5.27; 2 Ts. 3.6, 14).

Os escritos dos apóstolos eram colocados no mesmo nível das Escrituras do Antigo Testamento, pelos cristãos primitivos. Em 2 Pedro 3.15-16, Pedro reconhece os escritos de Paulo como Escrituras, em pé de igualdade com as do Velho Testamento. Paulo, ao citar em 1 Tim. 5.17-18 “o trabalhador é digno do seu salário” (Lucas 10.7) como Escritura, demonstra que considerava Lucas como parte do Cânon.

Os escritos dos apóstolos eram colocados no mesmo nível das Escrituras do Antigo Testamento, pelos cristãos primitivos.

A maior parte do cânon do NT é composta por escritos de autoria dos apóstolos. Isso inclui Mateus; João; de Romanos a Filemon (todas as cartas de Paulo); as cartas de Pedro; as cartas de João e Apocalipse de João[12]. O Evangelho de Lucas, embora não tenha sido escrito por um apóstolo, foi reconhecido como Escritura por um apóstolo (Paulo) e assim foi logo reconhecido pelas igrejas. O Evangelho de Marcos foi também cedo reconhecido pelas igrejas como Escritura por causa da associação próxima de Marcos com o apóstolo Pedro. O livro de Atos era a segunda parte do livro de Lucas, portanto, também era canônico. Ficaram fora desta lista de livros certamente escritos por apóstolos apenas Hebreus, Tiago e Judas.

Hebreus foi um livro que teve sua canonicidade bastante discutida e demorou para ser incluído no Canon Cristão, principalmente porque não se sabe até hoje quem foi o autor. Este livro foi aceito por muitas igrejas primitivas e depois alcançou unanimidade devido às suas qualidades intrínsecas. Jesus disse que as suas ovelhas conheceriam a sua voz (João 10.27) e as qualidades de Hebreus continuam a convencer os crentes de hoje. Wayne Grudem afirma “A glória majestosa de Cristo resplandece das páginas da carta aos Hebreus” (Grudem, p. 35).

Dos livros hoje canônicos, a carta de Tiago foi a que mais demorou a ser aceita no Cânon do Novo Testamento, pois não se tem certeza se quem a escreveu foi o apóstolo Tiago, grande líder da igreja em Jerusalém e irmão de Jesus (filho de José e Maria). No capítulo 2 desta carta há uma ênfase nas obras da lei como condição adicional de salvação, em aparente contraposição ao ensino de Paulo, da salvação somente pela fé. A canonização desta carta foi proposta pela primeira vez, por Atanásio, em 367. Lutero, a princípio, a chamava de “carta de palha”. Depois veio a aceitá-la, interpretando que o autor da carta apresenta as obras como consequência da salvação e não como causa. Os evangélicos de hoje também interpretam o capítulo assim e aceitam a carta como canônica.

Judas também demorou a ser reconhecido como Escritura por não se saber exatamente quem era o autor e porque nele há uma citação de um livro pseudepígrafo do Antigo Testamento — O livro de Enoque. Ainda hoje se discute se o autor foi Judas, irmão de Jesus e de Tiago, ou se foi Judas Tadeu, um dos doze discípulos de Jesus. O seu conteúdo geral, entretanto, é coerente com o Evangelho e o problema da citação apócrifa é minimizado, considerando-se que o autor citou o mencionado livro apócrifo somente a título de ilustração, e não como se fosse Escritura Sagrada.

Como já foi dito, alguns livros que circulavam nas igrejas no primeiro século eram bastante respeitados e sua canonicidade chegou a ser considerada possível durante um bom tempo. Livros como O Pastor de Hermas, Didaquê, as Epístolas de Barnabé, e O Apocalipse de Pedro eram lidos em algumas igrejas do mundo antigo como se fossem Escrituras. O Pastor de Hermas e o Didaquê chegaram a compor alguns dos fascículos (códices) de manuscritos, juntos com os 27 livros canônicos. O já mencionado Códice Sinaítico, o mais antigo manuscrito completo do NT existente hoje (datado da segunda metade do Século IV) contém esses livros, depois de Apocalipse.

Outros livros como O Evangelho de Tomé foram logo descartados, pois trazem declarações absurdas, tais como a referente à Maria Madalena:

“Que Maria se afaste de nós, pois as mulheres não merecem viver. Jesus disse: Ó conduzi-la-ei para torná-la homem para que ela também possa tornar-se espírito vivente, à semelhança de vós, homens. Pois toda mulher que se fizer homem entrará no reino dos céus”.

O Pastor de Hermas também traz problemas doutrinários. Esse livro ensina a necessidade da penitência e a possibilidade de perdão de pecados pelo menos uma vez após o batismo; ensina também que o Espírito Santo era o filho de Deus antes da encarnação e que a Trindade só passou a existir depois que a humanidade de Cristo foi elevada ao céu. Um livro com esses ensinamentos não pode ser canônico, pois entra em choque direto contra o conteúdo dos escritos apostólicos. Da mesma forma, os outros livros não reconhecidos pela igreja traziam incoerências com “a doutrina dos apóstolos”.

Assim, embora os oponentes do Cristianismo levantem hoje muita polêmica acerca do Cânon do Novo Testamento, nenhum dos livros rejeitados nos três primeiros séculos merecia realmente estar no Cânon. Eles não passaram nos critérios de canonicidade do Novo Testamento, a seguir relacionados.

Nos séculos II e III surgiram livros que atribuíam sua autoria a apóstolos (como o citado Evangelho de Tomé), porém seu conteúdo é bem diferente dos  livros canônicos. Na verdade, eles trazem outras estórias sobre Cristo e ensinam doutrinas muito mais harmônicas com o Gnosticismo, contraditórias com o Cristianismo dos Evangelhos e das Cartas canônicos. Cópias manuscritas de muitos desses livros foram encontrados em 1945 em Nag Hamadi (Egito) e se tornaram conhecidos como a “Biblioteca de Nag Hamadi”. Os modernos adeptos do Neo-Gnosticismo, no entanto, afirmam que esses livros eram autenticamente cristãos e que foram banidos do Cristianismo na Idade Média. Se assim o fosse, o Cristianismo não teria coerência, nem identidade doutrinária.

Critérios de canonicidade do Novo Testamento

Como os cristãos decidiram quais são os livros sagrados do Novo Testamento?

A igrejas primitivas sempre guardaram com especial carinho os escritos dos apóstolos e de seus companheiros de viagens. Esses livros começaram a ser então copiados,  compartilhados, e lidos liturgicamente na maioria das igrejas.

Mais tarde, no Século IV, a igreja utilizou os seguintes critérios para definir quais livros pertenciam ao Cânon do Novo Testamento:

  • A autoria – o autor deveria ser um apóstolo ou alguém credenciado por um apóstolo;
  • A doutrina do livro deveria ser coerente com a dos apóstolos (a igreja primitiva possuía pessoas que haviam sido discípulos dos apóstolos orginais de Cristo; portanto, conhecia bem a doutrina dos apóstolos);
  • O uso majoritário – a maioria das igrejas primitivas deveria ter usado o livro em suas reuniões;
  • O período (época) em que foram escritos – os livros canônicos foram todos escritos no primeiro século.
  • A inspiração – os livros deveriam motivar as pessoas à santidade e à transformação de vida;

Os judeus e os cristãos creem que a formação do Cânon do Antigo Testamento é ato da autoria de Deus; ele certamente o preparou. Com relação ao Novo Testamento, a seleção final dos livros canônicos foi feita, em última análise, pelo Espírito Santo, em ação nas vidas de todos aqueles que crêem em Cristo. Os livros que Deus inspirou aos apóstolos foram preservados pelos cristãos. Os outros, não inspirados, foram desprezados.

Finaliza-se, reiterando as palavras de GRUDEM (1999), quando diz, “Podemos dizer, com a certeza da fé, que o Cânon das Escrituras Sagradas é hoje exatamente aquele que Deus queria que fosse e assim permanecerá até a volta de Cristo”.

Fontes referenciais:

  1. RHODES, Ron. The complete book of Bible answers – Answering the tough questions. Eugene, Oregon: Harvest House Publishers, 1997. 395 p.
  2. GEISLER, Norman. Apócrifos, em Enciclopedia de Apologética. São Paulo: Editora Vida, 2002. 932 p.
  3. MCDOWELL, Josh. Evidência que exige um veredito: evidências históricas da fé cristã. 2. ed: São Paulo: Editora Candeia, 1996. 331 p.
  4. http://www.codexsinaiticus.org/en/codex/content.aspx. Website. Acessado em setembro/2008.
  5. GRUDEM, Wayne. O Cânon das Escrituras, em Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Vida Nova, 1999. 1046 p.
  6. http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=1025&letter=B#2946. Artigo. The Jewish Canon – The Old Testament. Acessado em setembro/2008.
  7. http://www.skypoint.com/members/waltzmn/OTCrit.html. Seção de Website. Old Testament Textual Criticism. Acessado em dezembro/2008.
  8. NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. 12 ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004. 335 p.
  9.  BAKER, Kenneth et al. Bíblia de Estudo NVI. São Paulo: Editora Vida, 2003. 2424 p.
  10. http://www.luz.eti.br/es_septuaginta.html. Artigo. Acessado em novembro/2008.
  11. http://www.veritatis.com.br/article/3965. A formação do Cânon bíblico. Artigo. Acessado em dezembro, 2008.
  12. http://bible.crosswalk.com. Website. Acessado em setembro/2008.

[1]Aramaico. Língua que era falada em várias partes do oriente médio, originada no séc. XII a.C. na Síria, Iraque [Babilonia] e Turquia oriental. Adotada como oficial no Império Babilônico.

[2] No Cânon Hebraico, os 39 livros do Canon Cristão do Velho Testamento são apenas 22, pois alguns são agrupados em um livro só.

[3] Artaxerxes era filho de Xerxes (Assuero, aquele com quem Ester se casou). Reinou na Pérsia, de 465 a 424 a.C. e foi sucedido por Xerxes II.

[4] Malaquias profetizou até por volta de 420 a.C., depois que o Templo de Jerusalém foi reconstruído.

[5] GRUDEM, Waine. Teologia Sistemática. Ed. Vida Nova.

[6] É muito provável que o livro sapiencial chamado “Eclesiástico” tenha sido escrito originalmente em Hebraico, porque o prólogo do livro afirma que o mesmo foi traduzido do Hebraico e porque Jerônimo, o editor da Vulgata Latina, afirmou que viu o original deste livro, em Hebraico. Além disso, dois manuscritos hebraicos desse livro foram encontrados entre 1896 e 1900. O autor de Eclesiástico foi Jesus, filho de Sirac. O prólogo do livro foi escrito pelo neto do autor quando o traduziu para o Grego, e diz que a tradução do livro foi feita no Egito, no trigésimo oitavo ano do reinado de Ptolomeu Evergetes. A partir desta informação, os estudiosos datam o original de pouco depois do ano 200 a.C. Assim, o livro, embora possa ter sido escrito em Hebraico, foi escrito fora do chamado período profético, e portanto, não é canônico.

[7] A maioria das pessoas desconhece os estudos e pesquisas aprofundados, realizados pelos teólogos eruditos católicos e evangélicos. O erudito católico Airton José, professor de Antigo Testamento/Bíblia Hebraica na Faculdade de Teologia Dom Miele do CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto-SP, demonstra, em seu blog (http://www.airtonjo.com/autoresjudeus01.htm), cabalmente porque a “Carta de Aristéias a Filócrates” é um documento falso. A razão principal é porque este documento foi composto muito tempo depois da data atribuída a ele.

[8] Os manuscritos existentes da suposta Septuaginta, são os códices: Vaticano; Sinaítico (ambos do Século IV) e o Alexandrino (do Séc. V). “Códices” são coleções de livros encadernados em um só volume, semelhantemente aos livros modernos.

[9] Os manuscritos cristãos siríacos do segundo século são altamente importantes no estudo textual da Bíblia, uma vez que Antioquia na Síria foi a cidade na qual os cristãos primitivos se estabeleceram depois que fugiram de Jerusalém, por causa da perseguição perpetrada pelos Judeus. Foi em Antioquia, onde, pela primeira vez na história, os seguidores de Cristo foram chamados de cristãos (Atos 11.26). É bastante razoável concluir que os Antioquinos guardavam cópias fiéis dos livros sagrados, tanto hebraicos quanto cristãos e os traduziram para o Siríaco, para serem lidos pelas futuras gerações ali estabelecidas.

[10] NICHOLS, Robert H. História da igreja Cristã. Ed. Cultura Cristã.

[11] Contra-Reforma. Movimento caracterizado pelos os eventos e ordens religiosas organizados pela Igreja Católica Romana para combater a Reforma Protestante, no Século XVI.

[12] Algumas comunidades primitivas e alguns “pais da igreja” duvidavam das autorias de 2º Pedro, 2º e 3º João, Judas e Apocalipse de João.

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1 Comment

  1. Brasil

    Ótimo texto, relativamente simples e muito explicativo.

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